'[...]O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.[...]'
                             Drummond






É melhor assim: o abraço solidário, a cumplicidade diante da dor do que palavras ditas sem tal gestação. Sofro da ausência, mas sofro de mãos dadas.O presente é muito grande. O mundo também. é por isso que de mãos dadas fica mais fácil ou, pelo menos, mais belo.
 Quando vejo as pessoas indo de um lado a outro- algumas com expressão leve, outras cansadas, desanimadas; algumas vagarosas, outras apressadas- fico imaginando o encontro. Aquele homem que vai é um homem a mais que vai. Mas ele chega. E encontra alguém que dá significado à sua existência porque sente a sua ausência. Sentir a ausência de alguém é dar sentido
à sua existência. É como uma criança que se alegra ao entrar em casa sabendo  que alguém estava à sua espera. Chegar e não encontrar é dor doída demais. é sentir esquecida, desprovida de cuidado. É estender as mão para ninguém.O encontro com o outro ou até mesmo com os cantos que escolhemos para descansar de nossas andanças, nos aliviar. Como é bom voltar.

Voltar a casa. voltar à consciência, voltar ao enredo que ficou esquecido em algum lugar no recôndito dos nossos sentimentos.


      As idas e vindas cotidianas são transformadas em encontro. Com o outro ou com a gente mesmo.É uma pausa na ausência do significado. Somos desertores do que dá essência ao que significamos. Transitamos de um lado a outro, vemos e não enxergamos ninguém. São travessias interruptas  de desconhecidos. Ao passo que, quando são vistas e reconhecidas, as pessoas se transformam.Sorrisos, dizeres, acenos, um gesto que seja, e aí está o significado.
       Temos esse poder. O poder de dar significado às pessoas que amamos.O poder de tirá-las do meio da multidão e ajudá-las fraternalmente. Pessoas caídas que precisam de uma mão. Temos duas. Pessoas fragilizadas. Precisam de uma palavra. Temos tantas.E as usamos com tantas imprecisões, com tanto desperdício, que na hora certa acabamos calados, economizando elogios, ternura. Daí  novamente os sorrisos se perdem, o mundo se apequena. Nada mais tem sabor. Os encontros voltam a perder o significado porque só uma mão interessa ser enlaçada. Os dizeres de tantas vozes carinhosas se perdem. É a surdez da espera de uma única sinfonia que talvez nem tenha sido composta.Projeções. Sartre chama isso de inferno. O inferno são os outros. O inferno são os outros porque projetamos nos outros a nossa realização e aguardamos deles uma ação que amenize o vazio que nos habita. Isso não é possível. Porque cada um tem de experimentar o território do sagrado do silencio e da solidão?. E cada um para existir de fato, tem de dar conta do próprio vazio?...


by Camila
  

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